terça-feira, 11 de maio de 2010

Sr Dorival e o que não vou saber

(*)

Era meu pai.

Cheio de ideias, dizia que a China jamais ia abolir o riquixá: "Se proibir, não vai ter emprego pra tanta gente", falava com grande gravidade, a que usava nos assuntos muito sérios.

Só o risco da tragédia do desemprego em massa justificava, pro seu espírito delicado, o descabido meio de transporte: uma pessoa que puxava, com sua própria força de tração, uma única outra, saudável, ou no máximo duas.

O que não lhe parecia certo era o uso dos músculos, pois não o incomodavam os taxistas ou mesmo os motoristas particulares, que também transportam um ou dois, mas dirigem máquinas. Ou talvez não atinasse com a semelhança.

Nunca vou saber.

Morreu sem conhecer os carrinheiros. Que teria pensado dessas pessoas que hoje puxam pequenas carroças com montanhas de recicláveis? Talvez não se importasse, pois recicláveis não têm consciência da desigualdade ali posta.

Nunca vou saber também.

Implacável essa tal de morte, que nos congela o espírito dos queridos.

---------

(*) imagem (belíssima) de que não conheço a autoria, da internet

.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Fiel vírgula

Não se trata do futebol, que esse o time não tem mesmo, mas do apelido.

Alcunhar a torcida do corinthians de fiel não foi um elogio, mas uma condenação.

Imagine um cara casado com uma dita-cuja que o trai com três vizinhos da rua, um dos quais aquele cunhado asqueroso que frequenta de bermuda florida os churrascos da família; gasta todo dinheiro do casal com bobagens, usando e abusando do cheque especial; e ainda maltrata as crianças.

Imaginou?

Agora imagine esse pobre coitado irremediavelmente destinado a ser fiel, não podendo sequer compartilhar os dengos de alguma mulher mais carinhosa que o incentive a procurar outra vida.

Não seria uma condenação?

- Fiel é p.q.p!

.