quarta-feira, 21 de julho de 2010

Navegar é exato

Navegar é exato. E tem borrascas, recifes e sereias.

E viver nem exato é.

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Nome sujo

Dizem que a crença de que misturar manga com leite é morte certa foi criada para evitar que os escravos, que consumiam muito um dos alimentos, consumissem escondidos também o outro, mais raro e destinado aos senhores. Se era a manga ou o leite o proibido eu não sei, já ouvi as duas versões.

Truque maquiavélico esse de criar uma falsa crença nos pobres pra se esbaldar sozinho nas guloseimas!

Mas há outro. Os da antiga da minha rua, sempre sem dinheiro, diziam que aquele que não paga dívida fica com o nome sujo.

Que expressão cruel: nome sujo!

O nome é um dos orgulhos das pessoas. Um juiz professor de direito me contou uma vez, com olhos marejados, sobre o seu arrependimento por ter seguido a lei com rigor excessivo e não ter dado um sobrenome a um rapaz que não conhecia sua origem. "A gente vê tanta decisão errada, motivada por argumentos injustos. Eu devia ter dado um nome ao menino, mas era muito jovem, cheio das 'leis'".

Em algum momento da nossa história - nem toda tradição é boa - foi criada a expressão nome sujo para apelidar os que devem. Mas a alcunha só pegou nos pobres, assim como a crença nos malefícios da mistura manga com leite.

Nunca se viu rico angustiado por não ter pagado uma ou outra dívida. Deixar pagamentos para depois é parte do dia-a-dia da administração financeira dos que têm dinheiro.

Não pagar contas pode até dificultar o crédito, o que pode ser bom, com os juros criminosos que andam por aí, mas falta de dinheiro e boleto em branco na gaveta não sujam o nome de ninguém.

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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Habilidades III - os apertos


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Procurei. O nome é torquês, que deve ter relação com torque, que é o esforço de torcer, coisa que ela faz mesmo. Pra gente era turquesa. Era mulher. E eu que tinha plena certeza que era só um erro na denominação da nacionalidade da ferramenta! Esses dicionários!

Fazia estágio e me botaram na cola uma francesa recém-chegada. Formada.

Mostrando pra moça como se amarravam as armaduras, aquelas gaiolas de aço que ficam dentro do concreto armado, ouvi seu protesto, em português bem pior do que esse: "mas essa ferramenta é de corte, não serve pra apertar e torcer".

E como eu, surdo-mudo na língua de Obelix, ia lhe contar que já sabia? Que, com pouco aperto, servia pra puxar o arame, aproximar as peças e torcer? E que, com aperto maior, virava instrumento de corte e eliminava-se o excesso sem trocar de ferramenta?

Como contar praquela Falbalá, que nunca tinha pegado uma turquesa, que minha gente sabia usar os apertos certos nas horas certas?

Voltou pra França com a certeza de que, também por não saber usar ferramentas, os brasileiros eram um povo subdesenvolvido.

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(*) Foto: Luciana Garbellini e Mario Rui Feliciani

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