terça-feira, 29 de março de 2011

Preferências

Sempre que peço cerveja, fora do boteco, num encontro um pouco mais formal, aparece alguém para torcer o nariz e me recomendar vinho.

Aviso logo de uma vez por todas: prefiro as amargas às azedas.

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segunda-feira, 21 de março de 2011

Quando o entusiasmo não dura

Faz um tempo já, saiu um disco em homenagem ao Adoniran: "Dá licença de contar".

Vi nas notícias que Chico cantava. Entusiasmo! claro que é exagero, mas esse moço Buarque tem ligação direta com o coração de quem ouve música brasileira. Já o imaginei cantando, com a sensibilidade que um compositor reserva para o outro, lindamente, apesar da infinidade de opiniões contrárias:

oh oh oh oh oh, meu senhor, é uma ordem superior;

ou

procurei na central
procurei no hospital
e no xadrez
[...]
"pode apagar o fogo, mané, eu não volto mais"
;

ou

Eu não vou pedir, mas se você quiser me dar
Aquele beijo, ao qual eu faço jus
[...]
"boa noite, zé, té manhã se deus quiser".
Tá tudo legal


ou

"Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nóis arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"


Os três mosqueteiros da desventura de "Saudosa maloca" (*) tratados com o cuidado com que foi cantado o abandonado no baile de "Sem compromisso", do Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro! Um sonho dourado!

Mas foi entusiasmo que durou pouco. Gravou "Bom dia, tristeza", uma letra derramada e sem importância, desconectada da obra maior do Adoniran. Se era pra homenagear o Vinícius, que declinasse do convite.

Nem comprei o disco.

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(*) "Saudosa maloca" é caso raro na MPB. Tem três personagens que representam mais de meia humanidade: Mato-Grosso, que quis gritar, revolucionário; "eu", primeira pessoa, "os homis ta coa razão", legalista; e o Joca, "Deus dá o frio conforme o corbertor", a religião, o refúgio final dos desabrigados sem saída.

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sábado, 19 de março de 2011

Cada projeto!


Se você é do ramo e não é de Sampa, não vai acreditar.

Temos aqui bancos de pontos de ônibus que não são horizontais, mas paralelos ao chão.

E olha que temos ladeiras!

Daí o exausto se senta, cabeça não gosta de ficar inclinada (parece que é coisa dos tais labirintos, que nos põem no prumo) e dá-lhe escoliose forçada.

Depois não sabem o porquê da nossa cara feia no fim do dia.

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sábado, 12 de março de 2011

Em outras construções

Foi ouvindo "Fly me to the moon - in other words" que me ocorreu a proposta de imitar o inglês.

Tem o pianinho do Tom e o ar na sua voz; “Francis, let’s fly”; a voz do Frank, contida pro amigo; os metais de rodar com a namorada pelo salão.

Mas tudo o que se diga é pouco. Ouça lá: clique para ouvir.

A proposta canibal vem do "Fly me".

Voe-me! Dizemos toque-me, leve-me, lave-me, beije-me. Só construímos assim para os transitivos.

Digamos "voe-me". Ou “estou tão triste hoje, durma-me”.

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quinta-feira, 10 de março de 2011

Avelãs da Ribeira

Minha avó dizia ter nascido no povoado de Avelãs da Ribeira, em Trás os Montes. Saiu de lá muito pequena e nunca voltou.

Faz muito tempo, era menino, nunca anotei, mas não me esqueci, que o nome, além de bonito, é ótimo pra se pronunciar com sotaque português (Avvlãs da Rrbaira).

Perguntei pra muitos, portugueses e viajantes, e nunca ninguém me disse conhecer.

Encontrei no google.

O povoado tem uma bela ponte em arco de pedras e mais ou menos duzentas almas, daquelas dos vivos. Das outras deve ter muito mais. A da minha avó inclusive.

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