quarta-feira, 4 de abril de 2012

Adoniran

Antes de mais nada, é um dos maiores letristas da Música Popular, o que no Brasil não quer dizer pouco.

Mas algumas análises sobre a obra do Rubinato incomodam.

Identificar Édipo em "Trem das Onze" é tão tolo, que basta dizer isso. "Trem das Onze" é uma das canções que mais brasileiros sabem de cor. Em qualquer lugar que você esteja, todo mundo canta. Ara, quem não  tem momentos de amor prejudicados pelas obrigações do dia-a-dia?

Há outra análise, menos estreita, que também não compartilho: de que há legalismo no Adoniran.

O conformismo que às vezes vemos nos muitos personagens que ele cria não é legalismo, mas um certo realismo. Assim como o desprovido tem que se conformar com o raio que cai na sua casa em noite de tempestade, ele também se conforma com a pata cruel do estado e da sociedade que derruba seu barraco.

"oh oh oh oh oh meu senhor / é uma ordem superior" (*)

A relativização do direito de propriedade é recente e ainda insuficiente. A injustiça da ordem superior, baseada em conceito estreito de propriedade, é raio estatal que destrói a vida do desprovido.

Na definitiva "Saudosa Maloca", esse realismo é mostrado pela composição dos três personagens. Nela sim tem um legalista, simplista, "os home ta com a razão"; mas tem também um revolucionário, que quer gritar; e um religioso, que é a última palavra, "Deus dá o frio conforme o cobertor". E, nessa última palavra de fé, está a grande construção do realismo do Adoniran: pra maioria dos ferrados a religião é só o que resta.

João Rubinato não faz a música do "dever ser", mas a do "ser". Nos nossos dias, talvez Adoniran contasse sobre os movimentos sociais que existem e obtêm avanços. Seria bom tê-lo hoje como compositor.

(**)

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(*) Despejo na favela

(**) João Rubinato é o nome de Adoniran Barbosa. Uso pra evitar a repetição, truque estreito de escrevinhador barato.

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